A pegada de carbono é um termo que descreve detalhadamente como as atividades humanas, empresariais ou governamentais afetam o meio ambiente, no que se refere às emissões de gases de efeito estufa. A ideia é trazer uma visão abrangente e consciente da quantidade de gases de efeito estufa que são liberados como resultado das ações, impondo um plano de ação que mude este cenário. A liberação dos gases contribui para o aquecimento global e por consequência, em mudanças climáticas.
A pegada de carbono é um conceito que remete ao grau de importância de um tema que se faz cada vez mais presente nas últimas décadas: a sustentabilidade. Apesar da pauta se fazer presente já há algum tempo, agora ela é tratada com mais vigor, após recentes desastres que alarmaram a população. A preservação do meio ambiente passa a ser uma prática fundamental e a discussão não pode ser ignorada, porque só quando sabemos o que nos aflige, é que podemos ter uma esperança de melhora. Acompanhe neste artigo:
- O que é a pegada de carbono e como se explica esse termo?;
- Os estímulos que aumentam e reduzem as emissões de carbono;
- Alterações que a pegada de carbono causa;
O que é a pegada de carbono e como se explica esse termo?
A atenção para práticas de ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), especialmente no que diz respeito ao pilar ambiental, só cresce cada dia mais. A integração dos conceitos impostos em cada letra da sigla é de extrema importância para diminuir impactos – que podem custar caro. Pensando no âmbito que impacta e bate de frente com a pegada de carbono, é imprescindível pensar na lógica de um mundo verde, olhando para as mudanças climáticas e traçando rotas para promover um futuro sustentável para as próximas gerações.
Nesse contexto, a pegada de carbono é um tema que precisa ser discutido. O termo é usado para descrever a quantidade total de emissões de gases de efeito estufa (GEE) no mundo, advindos através de feitos emitidos direta ou indiretamente por pessoas, organizações, eventos e/ou produtos.
Os gases em questão incluem mais de um tipo de gás. O principal deles, e talvez o que mais tenha efeito no aquecimento global, é o dióxido de carbono (CO₂), que deriva, do ponto de vista antrópico, principalmente da queima de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural. A lista também integra os seguintes gases:
● Metano (CH4): Advindos da pecuária, aterros sanitários e/ou produção de energia;
● Óxido nitroso (N2O): É comum ser emitido por fertilizantes agrícolas e processos industriais;
● Gases fluorados: São emitidos, na maior parte das vezes, por indústrias de refrigeração e eletrônicos e incluem hidrofluorcarbonetos (HFCs), perfluorcarbonetos (PFCs), hexafluoreto de enxofre (SF6) e trifluoreto de nitrogênio (NF3).
A pegada de carbono pode ser dividida em três vertentes principais. Acompanhe na tabela.
Emissões diretas – São causadas por fontes que pertencem ou são controladas por uma entidade. Neste escopo, incluem, por exemplo, as emissões motivadas por veículos de frota própria de uma empresa.
Emissões indiretas – São associadas à geração de energia elétrica, vapor, aquecimento e refrigeração comprados e consumidos pela entidade.
Outras – Se refere às demais emissões indiretas de GEE, que acontecem na cadeia de valor da entidade. Nesse escopo, estão incluídas as emissões associadas à produção de bens e serviços adquiridos, viagens de negócios, transporte e tratamento de resíduos.
A explicação para o termo pegada de carbono vem de uma metáfora: a ideia é entender o que as atividades humanas deixam ao planeta em termos de emissões de carbono. Para se fazer claro, quanto maior for a pegada de carbono, maior é o impacto ambiental nela imposta. Por consequência, também será maior a contribuição para o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Enquanto conceito, a ideia de conscientização deixa claro a responsabilidade ambiental de cada autora das emissões de GEE, independente de ser um indivíduo, uma empresa, uma indústria ou um governo.
O tema ganhou notoriedade a cada evidência científica sobre aquecimento global, que comprova o quanto a pegada de carbono se tornou um indicador imprescindível e central nas discussões sobre sustentabilidade, assim como políticas ambientais e estratégias de minimização de mudanças climáticas.
O impacto ambiental trazido pela pegada de carbono é alarmante e temos um exemplo recente para destacar: a tragédia no Rio Grande do Sul. A ligação é direta entre a pauta e o evento no Sul do país, que foi caracterizado por chuvas, inundações e deslizamentos de terra. Isso porque, a concentração de CO₂ na atmosfera está associada ao aquecimento global, e isso, por sua vez, intensifica eventos climáticos extremos como os que foram vistos pouco tempo atrás.
Também é válido destacar que o aumento da concentração dos gases na atmosfera estimula outros tipos de acontecimentos, como:
● Aumento das temperaturas globais;
● Elevação do nível do mar;
● Derretimento das calotas polares;
● Mudanças nos padrões climáticos;
● Aumento da frequência e intensidade de eventos extremos (como por exemplo: furacões, secas e enchentes).
Os estímulos que aumentam e reduzem as emissões de carbono
Existem estímulos que possuem um papel importante na elevação e na redução das emissões de carbono. Acompanhe abaixo aqueles que aumentam:
Queima de combustíveis fósseis – A queima de combustíveis fósseis contribui em altos níveis para o aumento das emissões de CO₂ e outros gases de efeito estufa. Como exemplos de recursos, os principais dessa lista são: carvão, petróleo e gás para geração de energia e transporte.
Desmatamento – O desmatamento em grandes áreas de florestas também acelera o aumento de emissões de CO₂. Isso porque, quando acontece a remoção de áreas florestais, a capacidade natural de absorção de CO₂ é drasticamente reduzida, resultando em uma maior concentração desse gás na atmosfera. O desmatamento normalmente ocorre visando a expansão agropecuária, urbanização ou outras atividades humanas.
Processos industriais – Por conta dos processos de produção e do uso de energia não renovável, muitas indústrias emitem elevados volumes de carbono.
Agora acompanhe os incentivos que reduzem as emissões de carbono:
Eficiência energética – Estabelecer tecnologias e práticas que aumentem a eficiência energética em edifícios, veículos e processos industriais, ajudam a reduzir o consumo de energia. Por consequência, isso reduz as emissões.
Reflorestamento – Na contramão do desmatamento, plantar árvores e proteger áreas florestais existentes contribui para a absorção de CO₂ da atmosfera, melhorando a qualidade ambiental.
Implementação de novas tecnologias – Aplicar junto às indústrias e às usinas geradoras de eletricidade tecnologias de CCUS (da sigla em inglês para Captura de Carbono, Uso e Armazenamento) que permitirão que essas atividades atinjam a neutralidade em Carbono, diminuindo o nível das emissões de CO2 para a atmosfera.
Alterações que a pegada de carbono causa
A pegada de carbono mais drástica se traduz através das mudanças climáticas e os impactos são severos. Veja abaixo a série de alterações que o aumento da temperatura média global provoca nos sistemas naturais e humanos:
Derretimento das geleiras – O derretimento das geleiras é um problema causado pelo aquecimento global, e basicamente, acaba com os grandes blocos de gelo que ficam localizados nas regiões mais frias do planeta. Com o aumento das temperaturas globais, essas grandes massas derretem mais rápido que o habitual.
Acidificação dos oceanos – A acidificação dos oceanos ocorre pelo excesso de CO₂ absorvidos por eles, e tem impactos severos na atmosfera. Nesse contexto, os oceanos atuam como uma espécie de esponja, que absorve parte do dióxido de carbono. Uma vez absorvido pelas águas do mar, reage com a água formando um ácido carbônico – que se desdobra em outros ácidos e ainda mais fortes. Isso provoca uma diminuição do pH da água do mar, tornando-a mais ácida.
Alterações de temperatura – Os ecossistemas naturais são significativamente afetados com as alterações nos padrões de temperatura e precipitação. Os ecossistemas em questão têm características específicas, que são ajustadas a condições climáticas particulares.
Deslocamento de espécies – O deslocamento de espécies ocorre à medida que as temperaturas médias aumentam e as precipitações mudam. Quando isso acontece, muitas espécies são forçadas a migrar para áreas que oferecem condições mais favoráveis.
Poluição do ar – Até aqui, já vimos que uma das principais fontes de emissões de carbono é a queima de combustíveis fósseis, mas esses combustíveis, além de liberarem grandes quantidades de CO₂, também emitem uma série de outros poluentes atmosféricos que têm impactos severos sobre a saúde humana e o meio ambiente. Nesse sentido, o processo produz materiais particulados e que têm uma série de efeitos negativos sobre a qualidade do ar. Entre a liberação, também estão os poluentes: óxidos de nitrogênio (NOx) e dióxido de enxofre (SO₂).
Degradação dos recursos naturais – O uso intenso de recursos naturais está associado à pegada de carbono com cada vez mais frequência. Recursos naturais são aqueles como água e solo, necessários para a extração e processamento de combustíveis fósseis, produção industrial e agricultura. O uso excessivo do recurso pode levar a uma série de alterações negativas, como: degradação dos ecossistemas, perda de biodiversidade, escassez de água e erosão do solo.
Pegada de carbono e a revolução energética
Ao longo deste texto, fica evidente que as alterações climáticas estão diretamente ligadas à pegada de carbono. Ou seja, às emissões de gases de efeito estufa.
À medida que as preocupações com o clima avançam, uma série de questionamentos se fazem presentes, e todos eles caminham para uma solução final: uma revolução energética.
A transição se trata de estabelecer e implantar mudanças na matriz energética. Para tanto, é necessário reduzir cada vez mais, sem que tenha um impacto direto na vida das pessoas enquanto sociedade, a participação de fontes fósseis em suas matrizes.
Além disso, também é importante promover medidas que aumentem a preocupação com o tema, promovendo ações que aumentem a eficiência e o armazenamento de energia via fontes limpas, ou que emitam a menor quantidade possível de GEE enquanto operam.
O plano é que, nesse cenário, o uso de fontes não renováveis ou emissoras de CO2 ao gerar energia elétrica seja diminuído, dando o espaço a fontes limpas, como a energia eólica, solar, hidráulica, nuclear e bioenergia. Neste caso caber ressaltar a importância do papel das tecnologias de CCS na fabricação das matérias primas necessárias para a expansão do uso das energias renováveis, visto que esses processos envolvem altas taxas de emissões de CO2, bem como das atividades de mineração para a obtenção dos metais críticos, necessários para a ampliação do uso da matriz energética de baixo carbono.
Possibilidades já são discutidas e, indo além das opções de investir mais em hidrogênio renovável ou zero-carbono, o impacto também chega do ponto de vista econômico. No fim do ano passado, o Brasil deu um grande passo rumo à descarbonização, quando a Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou por unanimidade o projeto de lei 412/2022, implementando o Sistema Brasileiro do Comércio de Emissões (SBCE).
O SBCE regulamenta o mercado de carbono no país, sendo um sistema de precificação do carbono, criado por governos para contribuir para o alcance dos compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa.
No país, o funcionamento do sistema consiste em ter um limite máximo de emissões de gases de efeito estufa, estabelecido por uma autoridade competente. Ou seja, aqueles que conseguirem diminuir as emissões para menos do que o total de cotas estabelecido, podem vender o que sobrou para quem ultrapassou suas cotas. Dessa forma, o sistema de maneira geral consegue atingir as metas de redução de emissões dentro do limite estabelecido.