Você sabe o que significa a bioenergia? Qual o seu papel dentro da sustentabilidade e como essa fonte de energia contribui positivamente ao meio ambiente? Acompanhe neste artigo:
• Biomassa: a base da bioenergia;
• Energia a partir da biomassa bate recorde em 2023;
• R$ 200 bilhões em investimentos até 2037;
• As vantagens da bioenergia;
• Bioenergia é aliado em emissões líquidas zero.
Se antes o tema sustentabilidade era debatido dos bastidores, agora, o assunto sai da coxia e assume os holofotes. Isso porque, após a tragédia ambiental no Rio Grande do Sul, a preocupação sobre a preservação do meio ambiente acelerou ainda mais.
Em coluna para o Jornal da USP, o professor Glauco Arbix destacou que há anos a ciência tem mostrado que eventos de grande magnitude (como o que ocorreu no Rio Grande do Sul) tendem a se tornar cada vez mais frequentes.
Arbix explica que isso acontecerá por uma série de motivos, listando: as escolhas feitas na economia, a maneira como as cidades se organizam e a forma como usam exageradamente fontes sujas de energia. É aí que o papel da bioenergia na sustentabilidade entra.
De acordo com a explicação de Alexandre Alonso, chefe-geral da Embrapa Agroenergia, unidade de pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, em entrevista ao G1, a bioenergia é um tipo de energia produzida a partir de fontes biorenováveis. Em outras palavras, fontes naturais de energia.
Bruno Laviola, chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da unidade de pesquisa, completou dizendo que a bioenergia não se limita apenas a gerar eletricidade, mas também pode ser utilizada para produzir calor, combustíveis, produtos químicos e até mesmo fertilizantes.SSSS
A matéria prima da bioenergia vem através da chamada biomassa. Algumas delas podem ser plantadas e crescem novamente na natureza e, por isso, a fonte de energia é considerada renovável.
“É uma importante ferramenta para o desenvolvimento sustentável e para a luta contra as mudanças climáticas. A adoção responsável e bem gerenciada da bioenergia pode desempenhar um papel fundamental na transição global para uma matriz energética mais limpa e sustentável”, sinaliza Laviola.
Em linha está o secretário estadual de infraestrutura e meio Ambiente, Fernando Chucre, que já declarou publicamente em 2022 durante palestra no Climate Action Hub, na COP 27, que a bioenergia é essencial para a transição energética e descarbonização, pois aumenta a oferta de biocombustíveis e reduz as emissões de carbono.
Biomassa: a base da bioenergia
Como mencionado antes, a bioenergia vem através da biomassa. Conforme o Ministério de Minas e Energia (MME) explica, a biomassa se trata de matéria orgânica vegetal ou animal, usada como fonte de energia em usinas termelétricas.
O ministério destacou ainda que o Brasil conta com 637 usinas termelétricas que utilizam a biomassa como fonte de energia, com uma capacidade instalada de 17.384 megawatt (MW). Veja abaixo os principais exemplos de matéria orgânica e vegetal:
Lenha
A lenha pode ser obtida em florestas nativas ou de reflorestamento. Quando se trata de áreas de replantio, a espécie mais utilizada como combustível é o eucalipto. Utilizado em 13 usinas, a potência alcança 263 MW.
Biogás
O biogás pode ser obtido a partir da decomposição de compostos orgânicos, extraídos de resíduos sólidos urbanos. Pode ser encontrado em aterros sanitários. A composição consiste em metano e dióxido de carbono. 26 usinas geram 201 MW.
Bagaço da cana-de-açúcar
Esmagando o bagaço de cana-de-açúcar é possível conseguir álcool, que poderá ser usado na fabricação do combustível etanol. Segundo o MME, é um componente importante para a geração de energia em duas etapas: no transporte e na geração de energia. Também se trata do combustível mais utilizado, produzindo 12.410 megawatts (MW) de potência, em 422 usinas.
Licor negro
O licor negro, também conhecido como licor preto, é um subproduto do processo de tratamento químico da indústria de papel e celulose. De origem florestal, o combustível é utilizado em 22 usinas, gerando 3.334 MW, motivado pelo alto teor energético.
De acordo com a Embrapa, neste material existe a mistura de compostos químicos inorgânicos de digestão, resíduos de madeira dissolvida (lignina) e outro tipo de matéria orgânica separada da madeira durante o cozimento no processo Kraft (processo sulfato de fabricação de celulose).
Resíduos florestais
Depois da temporada de colheita, resíduos podem ser aproveitados para a geração de energia. 76 usinas usam esse tipo de matéria-orgânica para produzir eletricidade, com uma potência total de 820 MW.
A Embrapa explica que galhos finos e troncos são exemplos de resíduos florestais, e que são rejeitados na produção de lenha para fins comerciais. Os resíduos também são utilizados na produção de materiais que concentrem a energia desperdiçada, como os briquetes e pellets.
Energia a partir da biomassa bate recorde em 2023
No ano passado, a geração de energia a partir da biomassa bateu um recorde de contribuição ao Sistema Interligado Nacional (SIN), segundo informações da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), vinculada ao MME.
No período, foram 3.218 megawatts médios (MWm), representando 4,6% de toda a demanda de energia consumida em 2023.
Antes disso, o último recorde havia sido registrado em 2020, quando a geração média das usinas a biomassa ficou em 3.140 MWm. Em 2023, houve um avanço de 223 MW na capacidade instalada de biomassa.
Já para 2024, a expectativa é ainda mais otimista, com um incremento de 1.155 MW, o que representará o maior valor da série histórica.
No começo deste ano, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que o ministério atua em várias frentes para seguir como referência de energia limpa em todo o mundo.
“Em 2023, 93,6% da nossa eletricidade foi gerada a partir de fontes renováveis, o que reforça o Brasil como liderança mundial na transição energética.”
No ano passado, a contribuição da biomassa à geração de energia variou de 3,2% a 4,9% ao longo dos meses.
O CCEE destacou que são mais de 600 (637) usinas termelétricas movidos a biomassa espalhados por todo o Brasil.
Bioenergia evita despejo de 14,9 milhões de toneladas de CO2
No primeiro trimestre de 2024 (1T24), a bioenergia evitou a emissão de 14,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) no ciclo Otto, de acordo com informações do estudo do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que o portal Isto É teve acesso.
Antes de explorar mais detalhes da pesquisa, é importante saber que o ciclo Otto representa a forma como são conhecidos o funcionamento de motores de combustão interna. Criado por Nikolaus Otto, em 1876, o ciclo mostra como os motores queimam combustível para gerar energia e fazer o veículo andar.
No estudo, o coordenador do núcleo de bioenergia do observatório, Luciano Rodrigues, explicou que ao longo de 2023 houve uma recuperação no mercado nacional de bioenergia.
“Depois de um período conturbado com redução da mistura de biodiesel e eliminação do diferencial tributário do etanol no ciclo Otto, observamos uma recuperação da bioenergia no mercado nacional ao longo dos trimestres de 2023.”
E completou “seguindo essa tendência, os resultados do primeiro trimestre de 2024 surpreenderam ao registrarem emissão evitada pela bioenergia 26,4% superior àquela observada no mesmo período de 2023.”
200 bilhões em investimentos até 2037
De acordo com o MME, até 2037, a expectativa é de que setores de bioenergia no Brasil recebam R$ 200 bilhões em investimentos.
Além disso, a pesquisa feita pela consultoria A&M Infra, a qual O Globo teve acesso, prevê investimentos de R$ 40 bilhões por ano em fontes renováveis de energia.
O sócio diretor da A&M Infra, Filipe Bonaldo, avaliou que, cada vez mais, os biocombustíveis e a energia renovável estão sendo vetores de crescimento no consumo e na transição energética do mercado nacional.
As vantagens da bioenergia
A Raizen, referência global em bioenergia, listou em artigo quais as vantagens da energia sustentável, destacando:
• Gera biocombustíveis biodegradáveis;
• Favorece desenvolvimento econômico regional e rural;
• Melhora processos no setor da agroindústria;
• Ajuda a melhorar a qualidade do ar;
• Apresenta custos reduzidos em relação às matrizes tradicionais;
• Contribui para um menor descarte de resíduos em aterros;
• Garante uma energia confiável, segura e eficiente;
• Motiva pesquisas e o uso de tecnologias inovadoras para o meio ambiente;
• Reduz a emissão de CO2 na atmosfera.
A empresa disse ainda que, de acordo com José Goldemberg, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a projeção é que até 2050, a bioenergia corresponderá a quase 30% de toda a energia usada no mundo.
Bioenergia é aliado em emissões líquidas zero
A agência internacional intergovernamental autônoma, International Energy Agency (IEA), sinaliza a importância da bioenergia como aliado nas emissões líquidas zero, dentro do Cenário de Emissões Líquidas Zero até 2050 – o chamado Cenário NZE.
Conforme explica a agência, a ideia do cenário NZE é guiar o setor de energia para alcançar emissões líquidas zero de CO2 até 2050.
A IEA detalha que o cenário é sustentado por uma análise detalhada dos prazos de execução dos projetos para o fornecimento de minerais e tecnologias de energia limpa, como parte dos esforços para garantir a viabilidade da implantação.
Pensando nisso, a IEA explica que a bioenergia é um ponto importante na descarbonização da transição energética, sendo um combustível com emissões quase nulas.
A IEA listou o cenário de emissões líquidas zero de 2023 até 2050. Acompanhe abaixo:
- Descreve um caminho para o setor energético global atingir zero emissões líquidas de CO2 até 2050, através da implantação de um amplo portfólio de tecnologias de energia limpa, sem compensações de medidas de uso da terra.
- Decisões sobre a implantação de tecnologia são determinadas por custos, maturidade tecnológica, condições de mercado, infraestrutura disponível e preferências políticas.
- A prioridade é uma transição ordenada, que visa a segurança energética através de políticas e incentivos fortes e coordenados, permitindo a todos os intervenientes antecipar as mudanças necessárias e minimizar a volatilidade do mercado.
- A rápida implantação de tecnologias de energia limpa e de eficiência energética está no centro da transição.
- Reconhece que atingir emissões líquidas nulas de CO2 no setor da energia até 2050 depende de uma cooperação global justa e eficaz. O caminho para zero emissões líquidas até 2050 é muito estreito.
- Todos os países terão de contribuir para alcançar os resultados desejados; as economias avançadas assumem a liderança e alcançam emissões líquidas zero mais cedo no cenário NZE do que as economias dos mercados emergentes e em desenvolvimento.
- O acesso global à eletricidade e à cozinha limpa deve ser alcançado até 2030, em linha com os ODS estabelecidos.
- Reduções rápidas e importantes nas emissões de metano provenientes dos setores do petróleo, do gás e do carvão ajudam a ganhar algum tempo para reduções menos abruptas de CO2 nos mercados emergentes e nas economias em desenvolvimento.
- A colaboração global facilita o desenvolvimento e a adoção de políticas ambiciosas, reduz os custos das tecnologias limpas e amplia cadeias de abastecimento globais diversificadas e resilientes para minerais críticos e tecnologias de energia limpa.
- Apoio financeiro aos mercados emergentes e as economias em desenvolvimento tem papel fundamental nesta colaboração.
Para saber mais detalhes sobre o cenário NZE, de acordo com a IEA, veja o link.